Por que Sofremos com Distúrbios Psíquicos?

Dr. Sergio Klepacz, da Clínica TotalBalance, explica porque sofremos com distúrbios psíquicos.

Neste vídeo você irá conferir:

  • Por que chegamos neste ponto?
  • Porque a depressão teve uma função no passado
  • Qual é a função do cérebro

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Transcrição

Pessoas sofrem com distúrbios psíquicos, distúrbios mentais. Digamos que é a grande sina da humanidade.

O ser humano conquistou o planeta, estamos aí fazendo o que quiser com o planeta, nossa casa. Mas a gente paga um preço, né? A gente vê hoje, depressão como uma das principais de morbidade ou de sofrimento no homem, né? Mas por que isso?

Quando você pega, por exemplo, um animal, você vê um animalzinho, você vê a tranquilidade, parece que eles estão sempre tranquilo. Os problemas deles se referem sempre ao aqui, agora, né? Você vê um animal estressado porque alguma coisa não está bem, está faltando alguma coisa pra ele. Você resolve aquele problema e ele está livre deste… da sua depressão, da sua ansiedade, né? Se a gente pode chamar isso no reino animal. É sempre um problema pontual.

Mas o ser humano, não. Ele fica com a questão, ele fica com o problema, ele desenvolve ansiedade, ele desenvolve síndrome do pânico, ele desenvolve depressão, que é uma das grandes causas, como eu disse, de morbidade hoje, né? Mas por que isso é assim? Por que que isso acontece? Por que que a gente chegou nesse ponto? Vamos pensar o seguinte: vamos imaginar que a história da humanidade, ou do ser humano, ou do hominídeo, dos primórdios, como a gente chegou a ficar como a gente é hoje, né? Um ser humano, o Homo sapiens.

Se isso… toda essa história, fosse contada em 24 horas, tá? O aparecimento do Homo sapiens, o aparecimento do homem inteligente, do homem que tem a consciência, seria, dessas 24 horas, possivelmente, os últimos minutos, né? Se a gente, pensar, por exemplo, a civilização moderna, a gente vai ver nos últimos segundos dessas 24 horas. Só pra você ter uma ideia, por exemplo, o aparecimento da internet seria os últimos 10 segundos dessa história, e hoje, a gente vive na pressão de internet, das mídias sociais, dessa coisa toda, né? Então, isso tudo é muito novo.

A própria humanidade, a civilização que a gente fala hoje, -a gente chama civilização que começa há três mil anos, aproximadamente-, é nada! Então, a gente carrega a sobrevivência com a gente. Então, muitos pacientes falam:

“Mas, doutor, por que eu sofro tanto, né? Por que que eu tô sofrendo com uma coisa que eu sei que é absurda?”.

Na verdade, você… isso que é absurdo, serviu pra gente chegar aonde chegou, por isso que, geneticamente, é um gene bem arraigado no ser humano, né? Então, o gene da depressão é muito arraigado, o gene da síndrome do pânico, a gente vê que não pula gerações; o gene da fobia social, daquele excesso de timidez, que faz muito as pessoas sofrerem, né? E como é que a gente entende isso dentro desse processo evolutivo?

A força que isso tem, a força de cinco milhões de anos atrás, né? A gente tenta comparar, por exemplo, como você vai tratar um indivíduo de depressão. Então, você começa com o experimento animal, em geral isso foi feito nos últimos… nas últimas décadas, buscar o modelo animal, e através desse modelo animal, a gente consegue entender um pouco dessa força da natureza. Por exemplo, como é que você provoca uma depressão num rato? Rato, possivelmente, não costuma ter depressão, assim, como um ser humano, mas a depressão no rato, você vai provocar através, por exemplo, da natação forçada. Você joga um rato em uma bacia de água, e aquele momento de desespero em que ele para de nadar, seria a depressão no rato.

E aí, você dá um depressivo, se ele for um bom antidepressivo, o rato vai ficar pouco tempo nessa situação de desespero, chamada depressão no rato. E, como essas doenças, então, têm a ver com essa evolução? Imagina, assim, depressão, né? Muita gente sofre de depressão.

“Doutor, mas eu sofro de depressão. É muito sofrimento, tal”.

No passado, a depressão teve a sua função, como a gente viu no rato.

Quantas pessoas se esconderam nas cavernas fugindo de predadores, de tigres-dentes-de-sabre, de leões, de tigres, né? E entraram no desespero, fingindo-se de mortos para não serem devorados por um animal desse, por um predador nesse. Hoje, o nosso predador não é mais o tigre, mas é nosso estilo de vida. É a consciência que a gente tem, né? O ser humano desenvolveu a consciência, e isso trouxe um problema, problema que os filósofos sempre estão tentando resolver, que é a consciência da morte, que a gente sabe que vai morrer. Então, o desespero de imaginar que a gente um dia vai morrer, e a gente sabe disso. Os animais não sabem, não têm essa consciência da morte. Por mais inteligente que seja um cão ou um animal que a gente convive, ele não tem a consciência da morte, né? Pelo menos nos últimos… durante a vida dele, não. Ele não tem a consciência, e a gente tem. Então, quando você vê um indivíduo com síndrome do pânico, que ele fala… ou um quadro de ansiedade generalizada, ele fala:

“Doutor, eu vou ficar doente, eu vou morrer, eu tô sentindo mal”.

Isso já foi útil no passado. Então, aquela pessoa com síndrome do pânico, quantos antepassados dele se salvaram de animais, salvaram de intempéries da natureza, fugindo, adaptando o organismo rapidamente à fuga? E isso aconteceu, com certeza. Por isso que, hoje, eles carregam esse gene. E, hoje, não existe mais essa função. Você não tá sendo perseguido na natureza por animais predadores, né? A não ser o homem, que seria o predador do próprio homem. E quando você vê, por exemplo, indivíduo com fobia de social, que sofre com a presença de pessoas estranhas, essas pessoas, no passado, né? Os seus antepassados estariam fugindo de indivíduos perigosos, que estariam… que poderiam ameaçar a vida. Tá?

Então, na verdade, quando você vê, por exemplo, a bipolaridade, indivíduos que têm períodos de depressões muito intenso e períodos de euforia, será que não seria uma… um modo de sobreviver a intempéries do clima? São indivíduos que, durante o inverno, estariam se hibernando, né? A depressão seria uma forma de hibernação, e a euforia seria uma forma de tirar o tempo perdido e se reproduzir, né? O grande objetivo do ser humano, eu falo, o grande objetivo do cérebro, não é fazer a gente feliz. Isso é uma função que nós temos que administrar. O grande objetivo é manter a espécie viva. Então, tudo é feito para nos garantir até a sobrevivência, até a reprodução, a nossa sobrevivência até reprodução.

E o objetivo é deixar os descendentes que, a gente serve, no fundo, no fundo pra isso. Os filósofos, aí, buscam uma existência, alguma outra… algum outro objetivo, né? Mas, na verdade, na verdade, é isso, né? Então, hoje, o ser humano sofre, sofre com questões mentais, sofre com questões psíquicas, não vai resolver. A gente não deve esperar, assim, muito do nosso cérebro essa ajuda, né?

Para vivermos muito calmo e tranquilos, tá? Ele não vai deixar. Cabe à gente mesmo, né? Tentar, de algum modo, trabalhar a consciência, a consciência da morte dentro da gente.

E a gente tem mecanismos pra isso, tipo aquela coisa:

“Ah, eu vou morrer um dia, mas vai demorar muito. Eu nem vou tá aqui quando eu morrer”.

Então, eu acho que isso aí serve mais como um esclarecimento aí, pra você

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Publicado por Dr. Sergio Klepacz

Dr. Sergio Klepacz CRM 39099 – Médico psiquiatra desde 1983 pela Santa Casa de São Paulo, mestrado em psicofarmacologia pela Unifesp. Diretor da clinica TotalBalance Medicina Integrada.