Porquê Bons Relacionamentos são Protetores Contra a Depressão

Como abordamos no último blog, o cortisol, principal hormônio do estresse, é o principal elemento desencadeador do processo depressivo, sendo que situações de insegurança social, física e psíquica, são os grandes provocadores dos picos de cortisol.

Ao contrário, o hormônio da confiança, a oxitocina, liberada quando estamos entre pessoas queridas, com as quais nos sentimos seguros e apoiados, seria como que o oposto da moeda, funcionando como uma espécie de calmante do cortisol, e portanto protetora dos estados depressivos.

Trabalhos científicos tem sido desenvolvidos para tentar entender esta química sutil da vida, e basicamente propõem que suporte social (relacionamentos de confiança) que provocam a liberação de oxitocina, ou eventualmente a administração da própria oxitocina pode ter um ação antidepressiva ou mesmo preventiva dos sentimentos negativos, principalmente em se tratando das mulheres.

Em algumas situações o paciente tem uma boa rede de suporte social, mas tem um problema na percepção e aceitação desse apoio, e portanto estão bastante predispostas a apresentarem depressão, que em geral é de difícil tratamento.

Como exemplo dessa condição, podemos citar duas patologias psiquiátricas que se caracterizam pela impossibilidade de manutenção de um convívio tranquilo com as pessoas que nos cercam.

Fobia social 

Esses indivíduos frequentemente se apresentam como pacientes que sofrem de ansiedade, síndrome do pânico, ou depressão refratária aos tratamentos convencionais.

Por vezes veem com um diagnosticado de distúrbio bipolar ou depressão maior, porém observando melhor o histórico, nota-se que as crises estão sempre relacionadas a períodos de maior exposição social (emprego novo, mudanças de escola ou ingresso em faculdades) na qual existe a necessidade de enfrentar todo um novo ambiente, o que provocaria forte estresse e consequente episódio de depressão.

Por vezes o próprio paciente ou os familiares não percebem o real problema, sendo “taxados” de serem “muito estressados”.

A fobia social se manifesta logo na primeira infância, e se revela como dificuldade de convívio com outras crianças, de ir a festinhas infantis, etc. Nestas ocasiões, os pacientes, mostram sintomas físicos de medo, tais com taquicardia, e principalmente sudorese nas mãos, rosto e axilas, sintomas esses que podem perdurar por boa parte das suas vidas.

Esta condição revela uma descarga permanente do sistema nervoso autonômico, que é o coordenador do sistema de defesa e adaptação imediata mais poderoso que o organismo possui; em outras palavras, é como estar com um alarme disparado, que não pode ser desativado.

Muitas vezes, esses pacientes convivem com a sensação de que estão sendo constantemente observados em relação aos seus defeitos ou inadequações. É importante ressaltar que por vezes o diagnóstico da fobia social não é simples, podendo demorar muitos anos para se consolidar, uma vez que a depressão por si só, pode apresentar sintomas semelhantes.

Dificuldade de convívio social 

No caso de fobia social ou timidez exagerada, o quadro tende a ir diminuindo com o tempo e com a experiência de vida, ao contrário da depressão maior, que tende a piorar com o envelhecimento do paciente.

Em um mundo no qual a importância dos relacionamentos interpessoais podem fazer toda a diferença para uma pessoa, a timidez pode ser um fator limitante e desestabilizador na vida desse paciente.

Finalmente podemos salientar que a fobia social tem uma origem basicamente hereditária, praticamente não pulando gerações.

Possíveis fatores epigenéticos (mudanças nos genes causadas por fatores externos) podem comprometer toda uma sequência de gerações, de modo que um comportamento introvertido que foi vantagem em algum momento da história, passa agora a ser uma desvantagem, o que faz o indivíduo procurar tratamento.

Personalidade borderline

Quadro de difícil abordagem, que cursa com depressões severas, tentativas de suicídio, e automutilação, grande instabilidade emocional e uma enorme dificuldade em conviver com as pessoas na qual se deveria confiar, como familiares e amigos próximos.

São casos que costumam passar em avaliação por vários psiquiatras, sendo o diagnóstico definitivo desta condição bastante problemático, e que por vezes somente é possível após algum tempo de evolução.

Esses pacientes desenvolvem uma condição, na qual não se sentem aceitos nem amados pelos familiares, e por vezes, nem pelos amigos. Vivem uma angústia permanente, na qual oscilam entre a depressão grave e a sensação de não pertencerem a sociedade em que vivem.

Esse processo afeta os familiares, que passam muito tempo tentando provar para o paciente que essa sensação de rejeição que vivenciam não é real. Essas tentativas são sempre frustradas, e terminam em conflitos familiares, que podem desencadear episódios de automutilação e tentativas de suicídio, ou fugas no lar.

O que provoca tal alteração da personalidade é desconhecido, pesquisas apontam para possível consequência de traumas ou situações de abuso durante a infância, bem como para características inatas, baseadas em polimorfismos genéticos ligados aos genes que envolvem o sistema serotonérgico.

Sabemos que indivíduos ou mesmo animais de laboratórios, que apresentem falhas no sistema serotonérgico, tentem a ter comportamento desafiador e agressivo com os demais membros do grupo.

O tratamento é bastante problemático, sendo que esses pacientes respondem mal aos medicamentos antidepressivos e aos estabilizadores do humor. As terapias psicológicas comportamentais e psicoterápicas tem sido tentadas com frequência, também com resultados por vezes pouco animadores.

A boa noticia é que esses pacientes costumam melhorar espontaneamente a partir da quarta década de vida.

Importância dos bons relacionamentos

Não existe uma fórmula milagrosa para conseguir relacionamentos de confiança, protetores do estresse que a vida pode, por vezes, se tornar.

Nas livrarias e na internet encontramos inúmeros livros de autoajuda, ou conselhos dados por especialista no assunto.

Pessoalmente, creio que sinceridade de intenções, e expor os reais sentimentos, podem ser um bom começo.

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Publicado por Dr. Sergio Klepacz

Dr. Sergio Klepacz CRM 39099 – Médico psiquiatra desde 1983 pela Santa Casa de São Paulo, mestrado em psicofarmacologia pela Unifesp. Diretor da clinica TotalBalance Medicina Integrada.