Programa Pergunte Ao Psiquiatra – S1E3

Programa Pergunte ao Psiquiatra Episódio 3: Redes sociais e a depressão, e os antidepressivos

No 3º Programa Pergunte Ao Psiquiatra, Dr. Sergio Klepacz da Clínica TotalBalance e a apresentadora Juliana Haas conversam sobre depressão e as redes sociais, além do uso dos antidepressivos.

Nesta entrevista, você vai aprender:

  • O papel das redes sociais na depressão.
  • O uso de antidepressivos.
  • A cura da depressão.

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Transcrição

Juliana Haas – Olá. Sejam bem-vindos ao Programa Pergunte ao Psiquiatra. Hoje com o doutor Sérgio Klepac, atual diretor da Clínica Total Balance.

Juliana Haas – Sim. E você acha que as redes sociais, essa coisa da internet, esse mundo louco está afetando? Também tem a ver?

Drº Sergio Klepacz – Sim, sim. Eu estava comentando: eu acho que um fenômeno novo que eu observo, – observação minha -, tenho atendido muita gente na faixa dos 30, 30 e poucos anos, que são exatamente as pessoas que usam e abusam da rede social, que têm que mostrar uma coisa, às vezes, que ela nem é. Ela não tem controle, depende do que as pessoas vão dizer dela, não é? Quantos likes ela vai ter, quantas curtidas vai ter. Imagina quem é blogueiro. Imagina o quanto você está dependente de uma coisa que você não tem controle.

Juliana Haas – É.

Drº Sergio Klepacz – Você está fazendo o melhor de si, mas você não tem controle.

Juliana Haas – E as mídias mudaram também, então é tudo uma coisa nova, não é?

Drº Sergio Klepacz – Sim, sim.

Juliana Haas – E tem tudo a ver com o que estamos conversando: perdemos o controle de tudo.

Drº Sergio Klepacz – Sim. Claro. Em 1980, eu resolvi trabalhar com psiquiatria, fazer psiquiatria, eu tive uma viagem para os Estados Unidos, foi no final do meu curso, e comecei a fazer o meu curso lá em Memphis, nos Estados Unidos. Eu me lembro que eu voltei aqui, meu pai achou que psiquiatria era uma coisa… e realmente na época era uma coisa mal-entendida, tinha até um preconceito muito grande.

Juliana Haas – Sim. Achavam que era bobagem.

Drº Sergio Klepacz – Era bobagem, era coisa de gente que não tem o que fazer. Se pensava depressão: “ah, vai fazer uma viagem, que passa”, ou, “vai lavar um tanque de roupa, quero ver se não melhora”.

Juliana Haas – ((risos)) Sim.

Drº Sergio Klepacz – “Isso é coisa de gente rica ou coisa de gente pobre”. Mas depressão é democrática, é para rico, para pobre, é para todo mundo, para presidentes e para operá… tanto faz. Eu me lembro que o meu pai até me criticou assim no começo. Hoje ele entende. Eu ainda falei: “olha, a depressão ou as doenças da alma ou da mente vão crescer.” A mente é frágil, não é? Fomos feitos para uma coisa, e desvirtuamos essa função da mente. A mente foi feita para proteger a gente.

O cérebro veio para nos defender e, repente, ele tem que se adaptar a outras coisas. Imagine assim, o gap que existe… Vamos pensar assim: a civilização tem quantos anos? Uns cinco mil anos mais ou menos? A civilização atual que a gente vive? Sei lá, a civilização moderna tem o quê? 300 anos? E a mente foi desenvolvida para nos defender dessas coisas básicas, de ser perseguido por um leão, tigre dente-de-sabre, momentos que faltava comida, não é?

Juliana Haas – É.

Drº Sergio Klepacz – Então, hoje a gente tem uma distorção total. Eu sempre digo para os meus pacientes: “doutor, mas vai melhorar? Vai demorar para melhorar?”, eu digo assim: “o cérebro não é muito nosso amiguinho, ele está interessado em defender a espécie. Ele vai funcionar de acordo com a lógica que ele acredita que é bom para você.

Se ele te põe em ansiedade, pânico, é porque você, de algum modo, transmitiu a mensagem que você está em perigo.” E ele não desliga fácil não, hein? Por isso que as pessoas acabam às vezes… ele vai insistir nessa mensagem de: está te defendendo de você mesmo.

Juliana Haas – É bom a gente entender isso, que o cérebro não é amiguinho da gente, porque é muito complicado de entender.

Drº Sergio Klepacz – É, não é muito amiguinho. Ele quer preservar a espécie. E por isso que as pessoas acabam tendo que ficar em tratamento crônicos, por exemplo, com antidepressivos.

Juliana Haas – Sim. Aí é essa parte que eu ia chegar até, nos antidepressivos.

Drº Sergio Klepacz – Eu já imaginei. Que é a grande curiosidade.

Juliana Haas – Porque tem muita gente que pensa ainda, “ah, vou viciar, não vou tomar”, não quer. Mas como funciona o antidepressivo? É bom? É uma coisa que vicia? As pessoas querem saber, às vezes têm aquela coisa, “ah, não vou tomar, vicia, faz mal”. O que acontece com o antidepressivo?

Drº Sergio Klepacz – É, é um tema bastante polêmico. É muito pouco compreendido. E hoje em dia, temos uma quantidade grande de prescrições, às vezes não só para pessoas com depressão, mas às vezes os colegas, os médicos prescrevem para dor, para apetite, etc., e todos esses aspectos que envolvem a questão da serotonina principalmente. Eu posso te dizer assim: o antidepressivo, ele não vicia. Veja bem, as pessoas confundem muito o conceito.

O que é uma coisa que vicia, o que é uma coisa que não vicia? O vício sempre se dá quando é uma droga que tem uma ação imediata. Vamos supor uma droga de rua, droga de abuso, por exemplo, cocaína, ecstasy. Ninguém vai usar cocaína pra… “ó, amanhã, daqui 12 horas vamos ficar muito doido, tal”. Isso não existe. Tudo o que funciona muito rápido, mecanização muito rápida, quanto mais rápido funciona, mas vicia.

Juliana Haas – Ah, interessante isso.

Drº Sergio Klepacz – É muito interessante isso. Por isso que, por exemplo, o crack, que tem uma absorção muito mais rápida do que a cocaína inalada, vicia mais do que a própria cocaína, entendeu?

Juliana Haas – Sim.

Drº Sergio Klepacz – Depende da forma, por exemplo, injetáveis vicia muito mais. O antidepressivo, se analisar assim: o antidepressivo demora 15 dias, 20 dias para fazer efeito, tem uma ação mais complexa. Ele não é uma droga de vício. As pessoas confundem às vezes. Drogas, por exemplo, calmantes, aqueles chamados faixas pretas, têm uma ação muito rápida, então, você está ansiosa, você toma, às vezes em 15, 20 minutos você já alivia. E esses tipos de medicação sim, causa dependência.

Juliana Haas – E esses medicamentos, vocês também receitam para…?

Drº Sergio Klepacz – Não, eu pessoalmente, eu não prescrevo.

Juliana Haas – Mas é legal saber que tem alguns medicamentos que têm esse prazo, demora um tempo para fazer efeito.

Drº Sergio Klepacz – Sim.

Juliana Haas – E tem os outros imediatos que é para quem está com crise de pânico, alguma coisa assim?

Drº Sergio Klepacz – É. É usado. Mas este tipo de medicamento, sim, existe um risco grande de dependência. Remédio para dormir, que a pessoa toma, cinco minutos está dormindo.

Juliana Haas – Sim, sim. É legal saber disso.

Drº Sergio Klepacz – São remédios que têm um risco de dependência grande, e pode comprometer você a longo prazo. Veja bem Ju, eu estou focando aqui os antidepressivos.

Juliana Haas – Sim.

Drº Sergio Klepacz – Tem vários tipos de antidepressivo. Temos, por exemplo, aqueles conhecidos: Sertralina, que trabalha basicamente com serotonina, que aumenta a serotonina; Fluoxetina, que aumenta cortisol e serotonina; Venlafaxina, que aumenta a noradrenalina e a serotonina. É por aí. Tem alguns antidepressivos que têm uma ação até diferente. Porque, como eu te falei, depressão é uma coisa complexa, e cada um tem a sua depressão.

Tem pessoas cuja depressão responde muito bem ao antidepressivo, tem umas que respondem a outros tipos de tratamento, a suplementos, a estímulo magnético, terapia. Cada um tem a sua depressão, cada um tem o seu tratamento. E drogas, cada um tem a sua.

Juliana Haas – Sim.

Drº Sergio Klepacz – E voltando à questão que vicia. Você está tomando antidepressivo, de certa forma o seu cérebro está se acostumando, está se adaptando ao antidepressivo. Em um primeiro momento, aumenta a disponibilidade de serotonina ou noradrenalina, – estou falando daqueles antidepressivos mais comuns.

Passado um tempo, em geral ao redor de um mês, dois meses, aquele aumento de neurotransmissor começa a resultar em aumento da neuroplasticidade, ou seja, seu cérebro começa a se (resheipar 27:50), vamos dizer assim, mudando o shape dependendo da forma com que ele está trabalhando, que ele está funcionando. Esse seria o objetivo. E, em geral, até seis meses esse processo é feito.

Quando você faz um tratamento com antidepressivo, no mínimo, no mínimo, a pessoa precisa de seis meses. No mínimo.

Juliana Haas – É um tratamento longo, não é da noite para o dia que vai melhorar.

Drº Sergio Klepacz – Não. Não é. E se você parar logo nesse começo, a chance de retroceder é muito grande. Em geral, sempre, o retrocesso é pior do que o próprio quadro. É como se o cérebro falasse assim: “opa, vamos defender você mais. Vou te colocar para você se fingir de morta”. O que é a depressão? Se finge de morta. Por quê? Porque o leão está em cima de você. ((risos))

Juliana Haas – Sim.

Drº Sergio Klepacz – Essa interpretação que o cérebro faz.

Juliana Haas – É bom a gente entender isso.

Drº Sergio Klepacz – É. O antidepressivo, se fala que muita gente tem medo do antidepressivo, não é? Você não tratar uma depressão pode ter também uma consequência nefasta na sua vida. Tanto em termos de aspectos físicos, pode levar à alteração de imunidade, uma série de doenças, até quanto à capacidade cognitiva. Você sabe que quanto mais você está na realidade, na consciência, melhor você entende o mundo, melhor é o seu resultado na vida.

Juliana Haas – E o remédio ajuda, não é?

Drº Sergio Klepacz – A longo prazo, ele vai melhorando essa questão cognitiva porque ele vai reforçando áreas do cérebro importantes, que estão, de certa forma, bloqueadas pela depressão. O antidepressivo não vicia, mas você pode tornar-se dependente do tratamento. Se você tem uma falha grande, que às vezes é uma coisa genética no sistema serotoninérgico, no sistema noradrenérgico, e você vai precisar desse reforço permanente em casos de depressão mais graves.

Depressão grave, dificilmente você vai poder ficar sem antidepressivo. Mas daí a grande dúvida: o que acontece se você tomar antidepressivo por longos anos? O que pode acontecer? Os trabalhos são ainda… quer dizer, tem muitos antidepressivos que são até novos, a gente nem sabe. Mas assim, de experiência, eu tenho 40 anos de profissão, nunca ninguém morreu porque tomou antidepressivo por longo prazo. Eu nunca vi.

Juliana Haas – Quer dizer, não tem problema, não é? Porque as pessoas se preocupam.

Drº Sergio Klepacz – No geral, não tem problema. Claro, você tem que ter precaução, se você não tiver engordando, se você não está aumentando…

Juliana Haas – E o legal, nem pode parar imediatamente assim.

Drº Sergio Klepacz – É, isso tem que ter muito cuidado. Agora, se você tem uma questão, assim, muito ligado ao estresse, à uma depressão, que você não tinha um histórico, e é uma coisa muito ligada à situação de vida, você tem que mudar a sua vida.

Juliana Haas – Que a gente sabe que não é fácil, não é?
((falas sobrepostas))

Drº Sergio Klepacz – Sim. Mas eu vejo pessoas que, no final, acabaram mudando, acabaram se readaptando e conseguiram diminuir o volume de estresse. Então, a gente tem que extinguir. Claro, em geral, aqui comigo, acaba vindo muita gente que tem uma dificuldade inata em termos de sistema serotoninérgico, as pessoas têm que ficar tomando antidepressivo e suplementos, e tudo que aumente o volume de serotonina.

Juliana Haas – E para quem está nos assistindo e quer saber, assim, se tem cura. Já tivemos acho que a resposta aí, não é? Tem, mas pode levar mais tempo ou não.

Drº Sergio Klepacz – Sim. Em geral, quadro de depressão grave, até uns cinco anos, o sujeito fala assim: “mas doutor, quanto tempo?”, falo, “cinco anos”. Até lá, quem sabe as coisas vão mudar e…

Juliana Haas – Sim.

Drº Sergio Klepacz – Mas assim, as pessoas não podem ter pressa de interromper o tratamento, porque o risco de recaída é muito grande. A recaída pode ser pior do que o primeiro quadro. Não compensa. O custo-benefício não compensa.

Juliana Haas – Sim.

Drº Sergio Klepacz – Eu tenho pessoas que tão aí com 90 anos de idade e tomam há 50 anos, antidepressivo, e tão vivas, tão bem.

Juliana Haas – E tão felizes da vida?

Drº Sergio Klepacz – Às vezes nada, quer dizer nada na vida. Às vezes nada, quer dizer nada. ((risos)) Podemos tirar um pouco essa questão da culpa. Eu acho que, claro, que o médico vai ser o cara que vai te dizer até quando.

Juliana Haas – É isso aí. Por hoje é isso. Espero que vocês tenham gostado da nossa conversa aqui com o doutor Sérgio. Trouxemos algumas dúvidas dos nossos seguidores, e vocês podem deixar todas as dúvidas aqui nas redes sociais. Eu vou pedir um like para quem gostar do vídeo, se inscreve no canal, ativa o sininho para receber as notificações.

Nos acompanhe nas redes sociais, aqui na Total Balance, que é o Instagram da clínica. Se quiserem seguir o meu também, é ju_haas, que eu sou apresentadora, influencer, estou passando por um monte de coisa também desses nossos estresses aí do mundo digital. E é isso. Obrigada pela entrevista e até na próxima semana.

Drº Sergio Klepacz – Até.

Juliana Haas – Um beijo, tchau.

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Publicado por Dr. Sergio Klepacz

Dr. Sergio Klepacz CRM 39099 – Médico psiquiatra desde 1983 pela Santa Casa de São Paulo, mestrado em psicofarmacologia pela Unifesp. Diretor da clinica TotalBalance Medicina Integrada.