Depressão já é uma Epidemia?
Sim, as previsões estavam certas: Em 2020 os quadros depressivos iriam ser uma das principais causas de morbidade na população mundial, hoje mais de 5 % dos habitantes da terra sofrem de depressão.
Me considero um “dinossauro” da psiquiatria, uma vez que me formei em uma época em que depressão era “doença de rico”, “falta do que pensar”, e os tratamentos que popularmente se preconizavam era “vai esfregar roupa no tanque que isso passa”, ou “faça uma viagem que melhora“. Assisti ao avanço dos distúrbios depressivos no mundo, principalmente na ultima década, e sempre questionando o que estaria por traz dessa “praga afetiva”.
Frequentemente me questionam, seria a queda do preconceito em relação aos distúrbios psiquiátricos que fazem as pessoas poderem, finalmente, revelar seu drama, ou o ser humano esta realmente se tornando um ser depressivo?
Acredito que ambos fenômenos estão ocorrendo simultaneamente, o preconceito de ir ao psiquiatra diminuiu bastante, celebridades admitem publicamente que sofrem de depressão, grupos de internet trocam experiências, enfim ficou mais fácil para o paciente e para o médico psiquiatra conduzirem um tratamento baseado na confiança mútua.
Mas o assunto que realmente fascina os especialistas é o por que do aumento dos casos de depressão nos últimos anos:
O que estaria acontecendo com a humanidade? Será que perdemos nosso “brilho”?
Não existe uma pesquisa capaz de dar a exata explicação para o fenômeno, uma vez que a depressão é uma condição multifatorial, ou seja, dificilmente iremos elencar apenas uma causa.
Penso em pelo menos algumas situações atuais que irei desenrolar pelas próximas semanas.
Aumento do estresse
A depressão é o fenômeno do pós estresse, portanto se vivemos uma vida com mais estresse, teremos mais depressão.
Boa parte das pessoas viveu em algum momento uma situação de aumento de estresse, que culminou em algum tipo de mudança física ou psíquica, consegue entender na pratica essa conexão.
Muitos pacientes que se encontram em estado de depressão, são capazes de precisar exatamente o momento de estresse intenso, ou de longa duração que foi o fator desencadeante.
Mas de que forma isso acontece?
O estresse real se caracteriza necessariamente pela subida anormal do hormônio de estresse cortisol, portanto se não houver a resposta hormonal, não é o verdadeiro estresse.
O estresse que pode provocar a depressão é necessariamente uma situação de ameaça a integridade física ou psíquica, ou mesmo causado pela falta de compensação das frustrações diárias (por isso os finais de semanas e as férias são importantes).
Podemos citar ainda a perda da liberdade, o rompimento de relações importantes de confiança e amor, a sensação (real ou imaginária) de ser injustiçado, a perda de funções de órgãos, ou a incapacidade de fazer previsões de fatos futuros.
Com a subida exagerada do cortisol, alguns fenômenos acontecem que nos levam a depressão, e uma delas seria o “bloqueio” do sistema serotonérgico.
O próprio cortisol é um poderoso excitante do cérebro, provocando alterações no ritmo de sono, insônia, ansiedade e principalmente a sensação de medo.
O esquema abaixo explica em parte o que acontece após um pico de subida do cortisol:
Alguns fatos atuais nos fazem pensar que houve um real aumento nos níveis de estresse verdadeiro na população em geral:
– Os relacionamentos sólidos, de confiança, que desenvolvemos ao longo da nossa vida, são de extrema importância no controle do nosso estresse diário. Isolamento social ou o rompimento desses relacionamentos são grandes causadores do aumento da depressão.
Quimicamente falando temos o hormônio da confiança e amor, a oxitocina, que atua como uma espécie de calmante das áreas cerebrais responsáveis pelo medo e sensação de insegurança, que podemos sentir, quando estamos ao redor de pessoas em geral. Quando na percepção da companhia de entes queridos, a oxitocina é liberada, baixando os níveis de cortisol (hormônio do estresse).
A volatilidade dos relacionamentos atuais, bem como o aumento do número de pessoas que vivem sozinhas, pode explicar parte do fenômeno do aumento dos casos de depressão. Possivelmente o advento dos celulares, da internet, e das mídias sociais possa ter contribuído para esse fenômeno.
Me recordo quando os relacionamentos demoravam um certo tempo para se consolidarem, demandando um real conhecimento daquela outra pessoa. Hoje em dia, a rapidez e as informações distorcidas das mídias sociais têm acelerado demasiadamente, e consequentemente “superficializado” os relacionamentos.